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Como Deng Xiaoping transformou a China em uma superpotência

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Atualmente, a China é uma das principais potências econômicas e políticas do mundo, exercendo liderança em diversas áreas, incluindo comércio, tecnologia, infraestrutura, defesa e diplomacia. No entanto, essa realidade contrasta significativamente com o estado do país há cerca de quatro décadas. Naquela época, a China era uma nação empobrecida, isolada e marcada por conflitos internos e guerras. O ponto de virada que transformou essa situação foi a ascensão de um líder que teve a habilidade de quebrar com as tradições do passado e implementar reformas profundas que tiveram um impacto transformador na economia e na sociedade chinesa: Deng Xiaoping.

Deng Xiaoping nasceu em 1904, na região sudoeste da China, na província de Sichuan. Ele se engajou no comunismo desde cedo, acompanhando Mao Tsé-Tung na Longa Marcha, na guerra contra os invasores japoneses e na guerra civil contra os nacionalistas. Depois que a China se tornou uma república popular em 1949, Deng assumiu vários postos no governo e no Partido Comunista da China (PCCh), mostrando-se um político hábil e pragmático. No entanto, Deng também sofreu com as perseguições e os expurgos durante o governo de Mao, principalmente na Revolução Cultural (1966-1976), um movimento extremista que pretendia eliminar as influências capitalistas e tradicionais na sociedade chinesa. Deng foi tachado de “revisionista” e “capitalista disfarçado”, sendo destituído de seus cargos e mandado para o trabalho rural.

Com a morte de Mao em 1976, Deng retornou ao poder, vencendo seus adversários internos, com o grupo conhecido como “Gangue dos Quatro”, que defendiam o maoísmo ortodoxo. Deng se tornou o líder máximo da China em 1978, dando início a uma nova fase na história do país: a fase da “Reforma e Abertura”.

Essa fase abarcou um conjunto de medidas que visavam modernizar a economia e a sociedade chinesas, introduzindo elementos de mercado, incentivos à produção, abertura ao comércio exterior e descentralização do poder. Deng defendia um “socialismo com características chinesas”, ou seja, um sistema que combinasse o planejamento estatal com a iniciativa privada, adaptado às condições específicas da China.

As reformas se iniciaram pelo setor agrícola, onde Deng acabou com as comunas coletivas e permitiu que os camponeses tivessem direito de uso da terra e pudessem vender seus excedentes no mercado. Isso aumentou a produtividade e a renda dos agricultores, reduzindo a pobreza rural.

Em seguida, Deng promoveu a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), áreas litorâneas onde as empresas estrangeiras podiam se instalar com facilidades tributárias e regulatórias, trazendo investimentos, tecnologia e empregos para a China. As ZEEs se tornaram polos de desenvolvimento industrial e comercial, impulsionando o crescimento econômico do país.

Deng também estimulou o surgimento do setor privado na China, permitindo que os cidadãos abrissem seus próprios negócios e competissem no mercado interno e externo. Além disso, Deng incentivou a modernização da indústria estatal, introduzindo critérios de eficiência, qualidade e lucratividade nas empresas públicas.

Por fim, Deng ampliou as relações diplomáticas da China com o mundo, normalizando os laços com os Estados Unidos, a União Soviética e outros países. Deng também apoiou a integração da China em organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), buscando maior participação e influência no cenário global.

As reformas de Deng Xiaoping trouxeram resultados dignos de nota para a economia e a sociedade chinesas. Entre 1978 e 1997, o ano em que Deng morreu aos 92 anos de idade, o Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu em média 9,7% ao ano, passando de US$ 150 bilhões para US$ 961 bilhões. A renda per capita aumentou de US$ 156 para US$ 781, tirando mais de 200 milhões de pessoas da pobreza extrema. O comércio exterior se multiplicou, passando de US$ 20 bilhões para US$ 325 bilhões, tornando a China um dos maiores exportadores e importadores do mundo.

As reformas que a China iniciou em 1978 sob a liderança de Deng Xiaoping trouxeram benefícios econômicos e sociais para o país. A China se tornou uma das maiores potências mundiais, com altas taxas de crescimento, redução da pobreza e melhoria dos padrões de vida. A população chinesa teve acesso a bens e serviços que antes eram escassos ou inexistentes, como alimentos, roupas, eletrodomésticos, automóveis, telefones, internet e viagens. A sociedade chinesa se tornou mais dinâmica, complexa e plural, com diferentes classes, interesses e valores.

Porém, as mudanças também acarretaram dificuldades e desafios para a nação. Entre eles, destacam-se a crescente desigualdade social entre regiões, zonas urbanas e rurais e grupos sociais; a deterioração ambiental, provocada pelo uso intensivo dos recursos naturais e pela contaminação industrial; e a corrupção, que se alastrou pelo sistema político e econômico, comprometendo a legitimidade e a eficiência do governo.

Além disso, as reformas econômicas não foram seguidas por reformas políticas. A China preservou o sistema de partido único, dominado pelo PCCh, que suprimiu qualquer forma de oposição ou dissidência. O exemplo mais trágico disso foi o massacre da Praça da Paz Celestial em 1989, quando Deng determinou a intervenção militar contra os protestos pró-democracia liderados por estudantes em Pequim, resultando em centenas ou milhares de mortos.

Deng Xiaoping deixou um legado ambíguo para a China. Por um lado, ele foi o responsável por transformar o país em uma potência econômica mundial, elevando o padrão de vida e o prestígio internacional dos chineses. Por outro lado, ele também foi o responsável por manter o autoritarismo político e por gerar problemas sociais e ambientais que ainda desafiam o país.

A China atual é herdeira direta das reformas de Deng Xiaoping. Sob a liderança de Xi Jinping, que assumiu o poder em 2012, o país continua a seguir o modelo de “socialismo com características chinesas”, buscando combinar o crescimento econômico com a estabilidade política. A China tem hoje um PIB de US$ 12 trilhões, sendo a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Mas muitos analistas economistas dizem que a China já é de fato a maior economia do mundo. A renda per capita é de US$ 8.827, superando a média mundial. O comércio exterior é de US$ 4 trilhões, sendo o maior exportador e o segundo maior importador do mundo.

A China também tem investido em áreas estratégicas, como infraestrutura, tecnologia, energia, defesa e diplomacia. O país tem construído megaprojetos como pontes, ferrovias, portos, aeroportos e usinas hidrelétricas. O país tem desenvolvido inovações como satélites, foguetes, drones, inteligência artificial e telefonia móvel. E tem ampliado sua capacidade militar, modernizando seu arsenal nuclear, sua marinha e sua força aérea. O país tem expandido sua influência internacional, participando de organizações multilaterais, promovendo iniciativas como o Cinturão e Rota da Seda e apoiando países aliados na Ásia, na África e na América Latina.

A China atual também enfrenta os mesmos problemas e desafios das reformas de Deng Xiaoping. A desigualdade social persiste entre as regiões mais desenvolvidas do leste e as mais pobres do oeste, entre as áreas urbanas mais ricas e as rurais mais carentes e entre os diferentes grupos sociais. A degradação ambiental continua a afetar a qualidade do ar, da água e do solo na China, causando problemas de saúde pública e ameaçando a sustentabilidade do desenvolvimento. A corrupção continua a corroer o sistema político e econômico na China, gerando insatisfação e gerando protestos e demandas por reformas políticas. A China mantém o sistema de partido único, controlado pelo PCCh, que reprime qualquer forma de oposição ou dissidência. O país tem enfrentado tensões e conflitos com outros países, como os Estados Unidos, o Japão, a Índia e Taiwan, por questões econômicas, territoriais e ideológicas.

Deng Xiaoping foi um líder histórico para a China. Ele foi o arquiteto das reformas que transformaram o país em uma potência econômica mundial, elevando o padrão de vida e o prestígio internacional dos chineses. Ele também foi o responsável por manter o autoritarismo político e por gerar problemas sociais e ambientais que ainda desafiam o país. A China atual é herdeira direta das reformas de Deng Xiaoping, buscando combinar o crescimento econômico com a estabilidade política, mas também enfrentando os mesmos problemas e desafios.

* Washington Araújo é jornalista com mestrado em Comunicação Social e professor universitário desde 2006. Publicou 18 livros no Brasil, Argentina, Espanha e México, além de contribuir regularmente para jornais e revistas. Washington também possui uma vasta experiência profissional, tendo trabalhado por 18 anos no Banco do Nordeste e nos últimos 21 anos no Senado Federal.

** Efraim Neto é jornalista e especialista em democracia, república e movimentos sociais, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Diretor da Veredas Inteligência Estratégica, atuou em diversas funções na Secretaria-Geral da Presidência da República, no Ministério das Comunicações e na Secretaria de Governo da Presidência da República.

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